Como é feita a logística internacional de produtos?

Por Entrega Feita

23 de julho de 2025

Você já parou pra pensar no caminho que uma mercadoria percorre até chegar nas suas mãos? Não importa se é um tênis fabricado na Indonésia, um notebook vindo da China ou um perfume francês: por trás de cada produto importado existe uma verdadeira operação de guerra — e acredite, ela começa bem antes do embarque e termina só depois da entrega.

A logística internacional é um processo complexo, que envolve múltiplas etapas, vários modais de transporte, uma penca de documentos e um nível de coordenação que beira a coreografia. Tudo precisa acontecer no tempo certo, com os atores certos e seguindo normas locais e internacionais — senão o prejuízo aparece rápido.

Do ponto de vista do consumidor, pode parecer mágica. Mas por trás do clique de uma compra online ou da chegada de um container em um porto brasileiro, há profissionais especializados, sistemas integrados e muitas decisões estratégicas. Desde a armazenagem no país de origem até o despacho na alfândega brasileira, cada fase exige atenção redobrada.

Neste artigo, vamos te mostrar como funciona essa engrenagem da logística internacional. Vamos detalhar o passo a passo de uma operação típica de importação, explicar quem são os envolvidos, quais os desafios e por que esse processo é essencial para o funcionamento da economia global. E já no segundo tópico, vamos destacar o papel do técnico em Comércio Exterior, que atua nos bastidores dessa jornada internacional.

 

Planejamento da operação e escolha do modal de transporte

Tudo começa antes mesmo do produto ser produzido ou separado no estoque. O planejamento logístico é a primeira etapa e talvez a mais importante de toda a operação. Ele define como, quando, por onde e com quem a mercadoria vai viajar. Aqui, são analisados fatores como o tipo de carga, o custo-benefício de cada modal, o tempo de entrega necessário e as exigências legais de origem e destino.

Os principais modais utilizados são o marítimo (mais econômico, porém mais lento), o aéreo (mais rápido, mas bem mais caro), o rodoviário (muito comum em fronteiras terrestres da América do Sul) e o ferroviário (em alguns casos, complementar ao rodoviário). A escolha do modal não depende só do preço — envolve peso, volume, perecibilidade, urgência e viabilidade de acesso ao destino.

Nessa fase, também são definidos os parceiros logísticos: transportadoras, agentes de carga, operadores portuários, companhias aéreas, despachantes aduaneiros… Cada um tem um papel no caminho da mercadoria. Um erro na escolha aqui pode comprometer todo o restante do processo. Por isso, planejamento é coisa séria na logística internacional.

 

O papel dos profissionais especializados na operação

É impossível falar de logística internacional sem destacar os profissionais que fazem tudo acontecer. E entre eles, um dos mais importantes é o técnico em Comércio Exterior. Ele é quem conecta as pontas: entende o que o fornecedor precisa, o que a legislação exige e como a operação deve ser conduzida.

Esse profissional atua no planejamento da exportação ou importação, acompanha o processo de emissão de documentos, verifica normas aduaneiras, comunica-se com agentes internacionais, monitora prazos e garante que tudo esteja conforme os contratos. Ou seja: ele é parte estratégica da engrenagem, mesmo não aparecendo nos holofotes.

Além dele, outros especialistas compõem esse time: o despachante aduaneiro, que cuida da liberação na alfândega; o agente de cargas, que intermedia o transporte internacional; o analista de logística, que cuida da operação e rastreamento; e o gestor de supply chain, que integra tudo isso. É um trabalho em equipe — e bem coordenado.

 

Documentação e exigências legais no processo internacional

Não dá pra mover uma carga de um país pra outro sem encarar a burocracia. E não é pouca. O processo envolve dezenas de documentos, cada um com uma função específica. Fatura comercial (invoice), packing list, certificado de origem, conhecimento de embarque, declaração de importação… tudo precisa estar perfeitamente preenchido.

Esses documentos são exigidos pelas aduanas dos países de origem e destino, além de bancos (em casos de pagamento via carta de crédito) e órgãos reguladores. Um erro de digitação, um dado incompleto ou uma classificação fiscal incorreta pode travar a carga na alfândega — gerando atrasos, multas e até a perda da mercadoria.

Por isso, empresas usam sistemas especializados (como SISCOMEX no Brasil) e contam com profissionais treinados para garantir que a parte documental esteja 100% em ordem. E isso não é exagero: sem a documentação correta, o transporte nem sequer começa. É a burocracia que autoriza a mercadoria a cruzar fronteiras legalmente.

 

Armazenagem no país de origem e consolidação da carga

Depois do planejamento e da documentação, chega a hora de consolidar a carga. Isso acontece quando as mercadorias são reunidas em um armazém — seja do próprio exportador ou de um operador logístico — para serem preparadas para o transporte internacional. Essa preparação pode incluir paletização, conferência, etiquetagem e embalagem adicional.

Se forem várias mercadorias diferentes com um mesmo destino, o processo de consolidação ajuda a otimizar o espaço no container ou avião, reduzindo custos. Empresas que importam em menor volume podem compartilhar containers (LCL – Less than Container Load), enquanto grandes volumes usam containers exclusivos (FCL – Full Container Load).

Essa etapa também envolve a emissão dos documentos de transporte e o agendamento com o terminal portuário ou aeroporto. Nada acontece sem uma logística bem organizada na origem. Um pequeno atraso aqui compromete a janela de embarque — e pode jogar por água abaixo todo o planejamento feito.

 

Transporte internacional e rastreamento da carga

Com tudo pronto, a carga finalmente parte para sua jornada internacional. Aqui, entra a etapa mais visível da operação: o transporte entre países. Se for por via marítima, a carga segue para o porto, é embarcada em um navio e cruza oceanos até o porto de destino. Se for aérea, vai ao aeroporto e embarca em aviões cargueiros até chegar ao país importador.

Durante esse trajeto, o rastreamento é essencial. Ferramentas de monitoramento logístico permitem que as empresas acompanhem em tempo real a localização da carga, possíveis desvios de rota, mudanças climáticas que possam impactar o tempo de trânsito e eventuais paradas não programadas. Tudo isso ajuda a evitar surpresas desagradáveis.

O tempo de transporte varia de acordo com a distância, modal e condições logísticas. Uma carga vinda da Ásia pode levar de 30 a 45 dias por via marítima, enquanto por avião o mesmo trajeto pode ser feito em menos de uma semana — com um custo muito mais alto, claro. A decisão aqui é sempre entre agilidade e economia.

 

Desembaraço aduaneiro e entrega final ao cliente

Ao chegar no país de destino, a carga não vai direto para as mãos do comprador. Primeiro, ela precisa passar pelo processo de desembaraço aduaneiro. Isso envolve a apresentação de todos os documentos à Receita Federal (no caso do Brasil), conferência física ou documental da carga e pagamento de impostos e taxas.

Essa é uma fase delicada. Qualquer erro pode resultar em retenção da carga. Por isso, empresas contam com despachantes aduaneiros especializados, que conhecem os procedimentos e sabem como agir caso haja exigência de fiscalização ou dúvida por parte das autoridades. Rapidez aqui é sinônimo de eficiência logística.

Depois de liberada, a mercadoria é encaminhada para o armazém alfandegado, de onde segue para o endereço final — seja um centro de distribuição, loja ou cliente final. A entrega costuma ser feita por transportadoras locais, que assumem o “último trecho” da jornada. E só então o ciclo da logística internacional se encerra.

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