O boom do e-commerce muda a localização ideal de imóveis?

Por Entrega Feita

3 de junho de 2025

Com o crescimento acelerado das compras online, muita coisa mudou na forma como vivemos, trabalhamos — e claro, nos imóveis que escolhemos. O boom do e-commerce não transformou só o varejo, mas também afetou a dinâmica das cidades, das ruas e dos bairros. Agora, o que antes era um ponto estratégico pode ter perdido valor… e lugares antes esquecidos começaram a brilhar no radar de quem compra ou investe.

Não é exagero. A popularização das entregas rápidas, dos centros de distribuição regionais e até dos lockers automáticos fez com que a logística passasse a ter um peso enorme na escolha da localização. E isso não vale só para imóveis comerciais. Quem mora em regiões mal atendidas por entregas, por exemplo, começa a perceber limitações que antes não pesavam tanto na decisão de compra.

E tem mais: com o home office ganhando espaço e a descentralização dos negócios físicos, muita gente passou a buscar imóveis fora dos grandes centros. Casas maiores, com mais conforto e localizadas em bairros tranquilos ganharam protagonismo. Um exemplo típico é o crescimento do interesse por imóveis como uma casa em Dois Irmãos, onde o equilíbrio entre estrutura urbana e qualidade de vida se tornou um grande atrativo.

Então, a pergunta que fica é: será que o e-commerce está realmente mudando o mapa da valorização imobiliária? Ou estamos apenas vivendo uma fase transitória? Vamos mergulhar nessa discussão — porque entender essa mudança pode fazer toda a diferença na hora de comprar, vender ou investir.

 

Logística urbana e valorização por acesso

Se antes a proximidade de centros comerciais e avenidas movimentadas era o principal critério de localização, hoje o jogo mudou. O que vale mesmo é o acesso eficiente — tanto para entrar quanto para sair. Com o avanço do e-commerce, imóveis localizados em áreas bem atendidas por transportadoras e serviços de entrega se tornaram mais valorizados.

É simples: morar em um bairro onde as entregas atrasam ou não chegam cria frustração constante. Já as regiões próximas a hubs logísticos, com vias rápidas e boa infraestrutura, viraram queridinhas de quem depende de entregas recorrentes — o que, convenhamos, hoje é quase todo mundo.

Isso influenciou também na dinâmica de comércio local. Bairros onde os empreendedores conseguem operar pequenos centros de distribuição ou lojas híbridas (físico + digital) passaram a atrair novos negócios. E onde o comércio prospera, o valor dos imóveis inevitavelmente sobe.

 

Home office e a descentralização do trabalho

Com tanta gente trabalhando de casa, a necessidade de morar perto do escritório deixou de existir — e isso bagunçou o mapa tradicional de demanda imobiliária. Regiões centrais, antes supervalorizadas por causa da proximidade com o trabalho, começaram a perder força para bairros mais distantes, porém mais confortáveis e espaçosos.

Esse movimento impulsionou o crescimento de cidades menores ou regiões periféricas bem planejadas, que oferecem qualidade de vida sem perder conexão com os grandes centros. E não é só questão de espaço. O que pesa agora é a possibilidade de montar um home office funcional, silencioso e bem ventilado — coisas que os apartamentos centrais muitas vezes não oferecem.

Além disso, a descentralização levou ao fortalecimento de polos locais. Centros comerciais, academias, escolas e mercados passaram a surgir em áreas antes vistas apenas como residenciais. E esse desenvolvimento acelerado também puxa o valor dos imóveis para cima — especialmente os que já contam com estrutura consolidada.

 

Novos critérios de conveniência digital

Hoje, o imóvel ideal precisa ter mais do que um bom quarto ou uma bela sala. Ele precisa estar conectado. Isso vai desde uma boa internet até a presença de pontos de retirada de encomendas, delivery facilitado, portarias automatizadas e até lockers no condomínio. É a conveniência digital entrando com força nos critérios de valorização.

Empreendimentos que oferecem estrutura voltada para esse novo perfil de consumo estão na frente. Prédios com áreas específicas para delivery, por exemplo, reduzem o atrito com portarias e aumentam a segurança. Em condomínios horizontais, a existência de áreas comuns preparadas para receber entregas sem contato passou a ser um diferencial real.

E o mais curioso: esses detalhes que antes eram vistos como “luxo” agora são praticamente obrigatórios para quem quer atingir um público jovem e conectado. O imóvel não precisa ser inteligente no sentido tecnológico, mas precisa acompanhar o ritmo de vida atual — onde tudo é digital, rápido e sob demanda.

 

Imóveis comerciais e o novo perfil de loja

No setor comercial, o impacto foi ainda mais direto. O antigo modelo de loja de rua perdeu força para formatos mais flexíveis e híbridos. O ponto não precisa mais ser o “melhor da cidade” — ele precisa ser eficiente para armazenar, embalar e despachar. E isso mudou o foco de quem investe em imóveis comerciais.

Hoje, armazéns urbanos compactos, salões com acesso fácil e imóveis adaptáveis a operações logísticas estão ganhando destaque. O espaço de exposição virou apenas um complemento. O verdadeiro “coração” da operação está nos bastidores — onde o estoque gira, os pedidos são preparados e os fretes são despachados.

Isso também afeta bairros mais tradicionais, que antes tinham alto valor comercial mas pouca infraestrutura para esse novo tipo de operação. Aos poucos, zonas mistas (residencial + comercial) bem conectadas estão atraindo mais investimentos, justamente por oferecerem versatilidade de uso com menor custo fixo.

 

Valorização baseada em fluxo e demanda digital

Outro fator que merece atenção é como a digitalização das compras mudou o conceito de fluxo. Antes, ruas com alto movimento de pedestres ou carros eram disputadas a tapa. Hoje, o fluxo digital — o alcance online — é mais importante do que o físico. Isso muda tudo em termos de análise de localização.

Uma loja que vende bem no e-commerce não precisa estar no centro. Ela precisa de um bom galpão, logística eficiente e visibilidade online. Isso fez com que muitos imóveis em regiões menos badaladas se tornassem peças valiosas — especialmente para pequenos empreendedores que trabalham com vendas digitais e precisam apenas de um bom espaço operacional.

Com isso, bairros mais tranquilos, com fácil acesso a vias rápidas e com menos custos operacionais, passaram a ser mais procurados. E esse aumento na procura acaba, inevitavelmente, puxando os preços — tanto para compra quanto para aluguel. A valorização vem do uso inteligente, não da fama do CEP.

 

Avaliação estratégica para o futuro do imóvel

Diante desse cenário, fica claro que o conceito de “boa localização” mudou — e continuará mudando. Quem pensa em investir precisa ir além do endereço bonito. É necessário analisar o potencial logístico, a conectividade da região, o perfil de consumo local e a tendência de crescimento urbano em função do comércio digital.

Imóveis que antes eram ignorados por não estarem “no eixo” agora têm valor estratégico. E isso abre oportunidade para quem sabe enxergar o movimento antes da maioria. O segredo está em entender o que as pessoas — e as empresas — vão precisar daqui pra frente, não o que elas precisavam há dez anos.

O e-commerce não é apenas uma revolução no varejo. É também um fator que reconfigura as cidades, os hábitos e, claro, os imóveis. Quem souber acompanhar essa transformação vai sair na frente — seja para morar, alugar ou investir.

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